Seppuku: o ritual da morte do bushi no Japão

Conhecido erroneamente como harakiri pela maioria dos ocidentais, o seppuku é um dos mais famosos rituais do Japão e foi destinado apenas a classe guerreira.

Para a maioria dos japoneses, o termo harakiri é um insulto e demonstra a falta de conhecimento sobre o que representa o ritual da morte do bushi. Saiba mais.

A origem do Seppuku

Apesar de ser um ritual muito famoso e conhecido durante o período Meiji, acredita-se que o primeiro seppuku tenha sido realizado durante o período Heian por Minamoto no Yorimasa.

Minamoto no Yorimasa

Minamoto no Yorimasa

Yorimasa foi um exímio guerreiro e poeta. Além disso foi comandante do exército do clã Minamoto durante as Guerras Genpei (1180 a 1185).

Disputas pelo trono

Considerado como uma grande guerra civil no Japão, ocorreu pela disputa do trono imperial. No primeiro ano da guerra, o príncipe Mochihito, era o candidato apoiado pelo clã Minamoto para ocupar o trono.

Foi perseguido pelas forças do clã Taira no templo Mii-dera, conhecido formalmente como templo Onjo-ji.

Acompanhado pelos filhos e por monges guerreiros sohei, Yorimasa lutou mesmo em notória desvantagem contra as forças inimigas na esperança de salvar a vida do príncipe Mochihito.

Mas Yorimasa não foi capaz de proteger o príncipe ou fazê-lo fugir da numerosa força inimiga. Além disso, com a morte de seus filhos e a derrota iminente, o comandante preferiu fazer o seppuku, do que ser capturado pelos inimigos.

Durante a era Heisei até o período Azuchi-Momoyama, o seppuku era um ato muito mais agressivo e doloroso, mas a partir da era Edo ganhou uma nova perspectiva.

As razões de um guerreiro realizar o seppuku

Razões Seppuku
Cena do filme Seppuku

Para os guerreiros samurais, não havia nada mais importante na vida de um bushi do que sua honra. Além disso, um guerreiro cometia o seppuku como expressão por uma situação em particular também.

Os motivos poderiam ser causados por descontentamento contra um daimyo, expurgar um ato vergonhoso (como perder uma batalha), evitar ser capturado ou falhar com seu daimyo.

De qualquer forma, com exceção dos campos de batalha, para um bushi poder realizar o ritual do seppuku era preciso a aprovação do chefe de seu clã.

O Seppuku no período Edo

Seppuku

Durante o período Edo, a concepção do seppuku mudou e evoluiu para uma forma mais ritualística e formal separadas em alguns tipos.

Seppuku planejado

Ritual Seppuku

Após solicitar o seppuku para o líder do clã, o ritual era agendado para o guerreiro. Seu corpo era lavado e era oferecido um quimono branco.

O bushi ficava em posição no dojo, jardim ou local preparado para a cerimônia e era acompanhado por uma pequena plateia. Além disso, o prato favorito do guerreiro era servido.

Instrumentos

Sentado na posição seiza, era colocado uma mesa de madeira com saquê, instrumentos de escrita, molho washi e uma kozuka (lâmina para o golpe, a mais utilizada era uma faca conhecida como Tanto).

Porém, a lâmina era oferecida apenas para aqueles que não eram considerados uma ameaça. Se o praticante fosse considerado perigoso, no lugar da lâmina era oferecido um leque.

Saquê

O próximo passo era beber duas doses de saquê em dois goles. O primeiro representava a ganância e os outros três representavam a hesitação. Ao todo, os quatro goles representavam o shi: morte.

Poema

Após a bebida era esperado que o bushi escrevesse um poema gracioso e sem qualquer menção a sua morte.

Corte

O guerreiro tirava a parte superior de seu quimono e repousava sobre seus joelhos. Depois, pegava a tanto e golpeava seu abdômen no lado esquerdo e puxava a lâmina em direção ao lado direito.

Kaishakunin

Atrás do bushi ficava uma pessoa conhecida como Kaishakunin. Sua função era decapitar o guerrreiro e terminar o seppuku.

No caso de bushis considerados perigosos, o Kaishakunin desferia o golpe ao primeiro contato do leque com o abdômen.

Respeito

Além disso, ele não deveria decapitar completamente o bushi. A cabeça deveria se manter presa pela pele do pescoço para não respingar sangue ou a cabeça sair rolando pelo chão.

O kaishakunin era uma pessoa apontada pelo líder do clã ou poderia ser escolhido pelo próprio guerreiro. Após o seppuku, a mesa era descartada por estar infectada com a morte.

Garantia de honra e status bushi

Essa forma era considerada um gesto digno e muitas vezes era considerado como uma morte em batalha e garantia da honra do guerreiro e de sua família. Isto é, manter os benefícios do status do bushi.

Jumonji Giri

Seppuku Jumonji

Essa forma de seppuku é considerada a mais dolorosa de todas. Após o corte horizontal realizado no abdômen, o bushi realizava outro corte na vertical e sentava em silêncio até morrer. Neste caso não havia decapitação.

Kanshi

Não era exatamente um ritual, mas não deixava de ser um ato formal. No kanshi, o guerreiro realizava o golpe horizontal e enfaixava rapidamente seu corte.

Depois disso, o bushi ia até o seu senhor, dizia suas palavras de protesto e insatisfação antes de revelar seu ferimento. Existia um seppuku semelhante, mas destinado a pessoas comuns, o Funshi.

Jigai

Jigai

Essa forma de seppuku era destinado a Onna Bugeisha ou esposa do samurai. O jigai era conhecido pelas mulheres desde pequenas e foi comumente retratado em filmes épicos do Japão.

O Jigai era realizado pelas mulheres samurais pelos mesmos motivos dos homens. Porém, elas realizavam um corte vertical no pescoço rompendo as artérias.

As esposas de samurais cometiam seppuku em caso de derrota iminente e a possibilidade de serem capturadas, estupradas e torturadas.

Normalmente as mulheres costumavam amarrar seus joelhos para morrerem em posição digna e graciosa.

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Pena capital

Se um samurai cometesse um crime grave, como estupro, roubo, corrupção ou traição, o seppuku também era oferecido. Porém, nesses casos a absolvição de sua honra e de sua família não era garantida.

Em muitos casos, a família do samurai era punida com a morte ou vendida para a servidão e os bens confiscados.

A pena de morte por seppuku só foi abolida durante a restauração Meiji em 1873 por não se mostrar eficaz contra samurais transgressores.

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