Acumuladores de lixo no Japão: rotina puxada e solidão são fatores

Hoje em dia o minimalismo está em ascensão no Japão e em outros países do mundo. Mas apesar do sucesso de Marie Kondo, ainda existem muitos japoneses acumuladores.

Ainda que esse fenômeno não seja uma exclusividade do Japão, Sasaki Hisashi, fundador e presidente da Magonote Inc. relevou em entrevista ao portal Nippon.com sua experiência de anos limpando casas cheias de lixo.

Segundo Hisashi, o comportamento dos japoneses acumuladores e vivem em meio a sujeira e odores fortes são um reflexo de um problema social: a solidão.

Sasaki Hisashi

Nascido em 1969, o empresário começou o negócio de limpar casas cheias de lixo após sua empresa de transporte ter falido em Osaka em 2008.

Sem emprego ou renda, começou a oferecer e aceitar todo o tipo de trabalho até receber um pedido de uma estudante universitária para limpar sua casa.

Ao chegar no local para fazer um orçamento, mal podia entrar no apartamento, pois tinha pilhas de mais de um metro de lixo acumulado.

Na ocasião, a moradora do imóvel não tinha muito dinheiro para pagar pelo serviço, pois dependia dos pais para se manter.

Embora Hisashi não pudesse se dar ao luxo de fazer um trabalho tão pesado quanto esse, não foi capaz de recusar.

Após combinar um pagamento parcelado, contou com a ajuda da esposa e do filho para limpar o apartamento.

Quando terminaram a limpeza, alguns dias depois, recebeu um e-mail de sua cliente agradecendo pelo serviço.

Segundo o empresário, a jovem de 20 anos disse que provavelmente teria cometido suicídio.

Perfis dos clientes

Atualmente, a Magonote recebe cerca de 850 pedidos de limpeza por ano na capital japonesa. Além disso, seus clientes não são pessoas consideradas problemáticas.

Workaholics

Na verdade, a maioria tem alta educação e são considerados como indivíduos bem estabelecidos dentro da sociedade.

lixo sendo retirado

Muitos trabalham em hospitais. Com turnos pesados, não se lembram como chegaram até o ponto do lixo acumular tanto.

Alguns levam um certo tempo até perceberem que precisam de ajuda. Enquanto isso, dormem em meio ao caos.

Idosos

Normalmente os idosos japoneses são os clientes acumuladores que a Magonote Inc. possui em Tokyo.

antes e depois de sala cheia de lixo

Muitos clientes já passaram por privações e por causa disso tem uma relação de apego com objetos e coleções antigas (seja de louça ou roupas, por exemplo).

Alguns serviços de limpeza de residências de idosos só acontecem após a morte do morador.

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Consumismo e solidão

O consumismo e a solidão são os principais fatores que levam ao acúmulo de lixo. Nas últimas três décadas, a popularidade dos produtos de lojas de 100 ienes explodiu no Japão e surgiu o conceito “bom é barato”.

Casa cheia de lixo e depois de limpa

Além do consumo desenfreado, são pessoas sozinhas e não recebem visitas de amigos ou parentes.

Por causa disso, acabam não se importando com a limpeza e a organização de suas residências. A frieza da população de Tokyo também é outro fator.

Apesar da capital japonesa possuir muitos prédios e condomínios, os moradores praticamente ignoram a existência de seus vizinhos.

Mesmo quando as equipes estão trabalhando fazendo a limpeza em apartamentos, é como se estivessem em uma ilha deserta ou fossem invisíveis.

Até o mau cheiro provocado pela quantidade exorbitante de lixo e sujeira são ignorados por vizinhos.

Para o empresário, essas relações frias e indiferentes entre pessoas tão próximas é um problema e se tornará insustentável no Japão do futuro.

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