Poluição sonora no Japão: o país mais barulhento do mundo?

Como qualquer país, o Japão possui suas contradições. Apesar das regras de etiqueta da sociedade japonesa prezar o silêncio, a poluição sonora é um problema sério.

Se por um lado falar ao celular dentro de um transporte público japonês é visto como uma atitude rude e desrespeitosa, lojas e vendedores ambulantes, por exemplo, extrapolam o limite aceitável em suas propagandas com megafones.

Além disso, o país do zen, do pacifismo e do respeito ao espaço do próximo é também o país com o maior limite de decibéis por lei.

Para ter ideia, a regulamentação japonesa permite até 70 decibéis quando o limite considerado aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 53 decibéis.

O som e a psicologia

Poluição sonora no Japão

Quando se vive em grandes metrópoles, o barulho se torna algo corriqueiro e normalmente as pessoas não sentem os ruídos como um incômodo, afinal, estão habituadas.

Porém, de acordo com o psicólogo japonês Atsuko Sumitani, o intenso barulho nas cidades japonesas são como uma declaração de guerra aos sentidos humanos.

Segundo Sumitani os intensos ruídos estão fazendo com que os sentidos básicos estejam se perdendo.

Efeitos permanentes

Para se ter uma ideia da gravidade, um em cada oito japoneses com mais de 18 anos já perderam (em maior ou menor medida) sua audição.

Tabela de decibéis

Além dos efeitos físicos, os ruídos e barulhos podem levar uma pessoa ao extremo da sua sanidade mental.

Tanto que a privação de sono por barulho e as chamadas “propagandas do medo” fazem parte de muitas guerras modernas.

Uma pessoa exposta a tanta poluição sonora está sujeita a um ataque de pânico, crises de ansiedade, insônia, agressividade, menor capacidade de concentração, depressão entre outras condições psicológicas graves.

Poluição sonora sem fim

A lei do silêncio japonesa, por assim dizer, só é respeitada próximo a instituições governamentais. Fora isso é como se não houvesse nenhuma lei.

Em épocas de eleição a situação é ainda mais crítica. Quem vive no Japão sabe o barulho que são os carros de som dos candidatos. O som deles podem ultrapassar os 100 decibéis.

Carro eleitoral

No entanto, eleições são esporádicas, o maior problema está no dia a dia da população. Praticamente tudo nas grandes cidades japonesas emitem um aviso sonoro.

Avisos por todos os lados

Se o caminhão do lixo está chegando é anunciado em altos falantes. Se o trem está chegando, também é anunciado assim nas estações. Dentro do trem há mais avisos sonoros dando orientações aos passageiros.

Até mesmo em árvores dos parques públicos foram instalados alto falantes para dar orientações ao público e emitir sons de pássaros.

Isso sem considerar o barulho do tráfego, dos helicópteros e aviões que sobrevoam as grandes cidades.

Quando uma pesquisa foi realizada em 2008 na capital japonesa para medir o quanto a cidade produzia de ruído, o resultado chegou próximo aos 100 decibéis, ou seja, praticamente o dobro do recomendado pela OMS.

A cultura do barulho

Arte de rua megafone

Se no Brasil, EUA e os países europeus não é muito comum ver megafones, no Japão é algo bem corriqueiro. Seja nas ruas ou dentro de estabelecimentos comerciais.

Homem segurando megafone

Em parte, essa cultura surgiu como uma tendência em valorizar os direitos de livre expressão pública do país de acordo com Daniel Dola, pesquisador da Universidade de Tohoku.

Grupos como os Uyko Dantai , ultra nacionalistas japoneses (para saber clique em Descubra quem são os japoneses da Uyoku Dantai, por exemplo, costumam sair com seus carros de som logo pela manhã.

Por serem ignorados pela população em geral, o barulho causado acabaram se tornando mais um ruído urbano.

Como as leis do país em relação ao barulho são extremamente brandas e só servem para as instituições públicas, muitos comércios e até mesmo a estrutura orgânica governamental nas grandes cidades passaram a utilizar o som para suas próprias finalidades.

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Apesar do barulho no Japão, existem muitas pessoas lutando contra toda a poluição sonora produzida no país, como a Japan’s Association of Noise Pollution Victims, médicos especialistas, psicólogos e psiquiatras.

Passeata da Associação Poluição Sonora
Passeata da Associação de vítimas da poluição sonora

No entanto, se você busca uma experiência no Japão sem tantos ruídos, o ideal é evitar grandes metrópoles.

Será nas pequenas vilas do interior que você encontrará um ambiente mais livre da poluição sonora e do caos da vida urbana. Além disso terá uma experiência mais intimista com a cultura japonesa.

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