Cristãos no Japão (kakure kirishitan) estão prestes a desaparecer

Os cristãos no Japão enfrentaram preconceito e até perseguição em uma época distante em um país predominantemente budista e shinto.

Essa já não é mais sua realidade, mas os poucos que restaram estão ficando velhos e os jovens não tem interesse em seguir o cristianismo e a religião está com data contada no país.

Como o cristianismo foi parar no Japão

Não há nenhum país do mundo que não tenha organizado sua sociedade com base em alguma filosofia ou doutrina religiosa (e todas com base igualmente filosófica).

No caso do Japão, os principais pilares sociais são o Shinto, o budismo e a filosofia confuciana (presente em boa parte do extremo oriente).

Após a chegada de jesuítas portugueses no Japão em 1549, muitos missionários cristãos se dedicaram a ensinar e converter a população japonesa ao cristianismo.

Durante alguns anos isso foi possível e até mesmo alguns daimyos contribuíram para a missão dos portugueses, uma espécie de agrado para manter o comércio (especialmente de armas).

Aproximadamente 20 senhores feudais japoneses se converteram, além disso, Oda Nobunaga foi patrono da missão dos jesuítas no país.

Quando Nobunaga faleceu em 1579, existiam cerca de 200 mil cristãos no Japão e aproximadamente 250 Igrejas Católicas. Porém, em 1614 o cristianismo foi banido do país.

Séculos sinistros

O shogun Tokugawa Ieyasu entendeu que a presença dos jesuítas e de estrangeiros no Japão ameaçavam todos os pilares da nação, especialmente sua soberania.

No entanto, Tokugawa Ieyasu não se limitou a expulsar os cristãos estrangeiros do país, todos os japoneses convertidos foram perseguidos. A maioria foi brutalmente torturada e assassinada.

De 1614 até a abertura do Japão em 1853, a perseguição contra cristãos na Terra do Sol Nascente foi uma política de estado. Mas muitos foram capazes de manter sua fé, práticas religiosas e costumes.

Cristãos no Japão – Kakure Kirishitan

Japonês rezando em frente a altar cristão

“Cristãos escondidos” é a tradução de Kakure Kirishitan. Aqueles que sobreviveram aos mais de 200 anos de perseguição religiosa tiveram que se esconder, ou melhor, esconder a fé e as práticas.

Curiosamente eles fizeram exatamente a mesma coisa que os africanos escravizados pelos portugueses no Brasil: o sincronismo.

A única diferença entre os nagôs (iorubás, maior grupo étnico da África Ocidental) e os kakure kirishitan é que os nagôs esconderam no cristianismo as suas religiões, já os kirishitan esconderam no budismo a sua fé cristã.

Apesar dessa diferença (que não é trivial), esses dois povos foram capazes de criar uma cultura absolutamente nova e resistente ao lado mais perverso do ser humano.

Uma cultura deslumbrante

Embora os cristãos japoneses representem apenas 1% da população do país, a cultura criada por essa minoria é fabulosa.

Afinal, o sincronismo da Virgem Maria com a deidade da compaixão Kannon e a mistura do idioma japonês, latim e o português é algo único no mundo.

E aqui vai mais uma curiosidade extremamente relevante: há um túmulo de Jesus Cristo no Japão.

E o mistério não para por aí! Na região do túmulo, os cantos realizados pelos cristãos são diferentes de qualquer outro.

Esses cantos não são no idioma japonês, nem em qualquer idioma de origem latina. Na verdade, esses cantos são muito próximos ao hebraico, um idioma que teoricamente nunca chegou ao Japão.

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A queda

É possível que exista mais estrangeiros do que cristãos japoneses. E como a maioria deles são idosos em pequenas vilas do interior do país (especialmente Nagasaki), o desaparecimento do cristianismo é quase inevitável.

Isso porque os jovens saem dessas pequenas vilas para buscar melhores oportunidades nas grandes metrópoles japoneses e perdem suas conexões.

Masaichi Kawasaki de 69 anos, um dos líderes da fé cristã na ilha de Ikitsuki afirmou em entrevista ao Japan Times que os jovens de hoje se afastaram da espiritualidade.

No entanto, Kawasaki diz que na região onde atua, existem pouco mais de 300 cristãos em quatro grupos. 30 anos atrás eram mais de dois mil em 20 grupos.

Apesar da alta probabilidade do cristianismo desaparecer do Japão, Kawasaki e os cristãos remanescentes estão decididos a não permitir que isso aconteça.

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