Moradora de cidade japonesa prestes a desaparecer chama atenção com seus bonecos

Já ouviu falar do vilarejo Nagoro, no Japão? É uma aldeia montanhosa em Ira, nas ilhas Shikoku e não chamava atenção até pouco tempo. O cineasta Fritz Schumann, lançou um pequeno documentário sobre a moradora Ayumi Tsukumi e o local ganhou repercussão internacional desde então.

O mundo voltou seus olhos para Nagoro, antes esquecida e prestes a sumir. Graças a atitude de uma das moradoras, Ayano Tsukimi, 67 anos e sua ação em fazer bonecos em tamanho real que lembram a população que morreu ou foi embora para as cidades maiores em busca de uma oportunidade de emprego e os espalhou pelas ruas desertas de Nagoro.

Vilarejos estão sumindo pelo Japão

Atualmente, o pequeno vilarejo possui apenas 35 habitantes e representa a realidade de algumas pequenas aldeias que aos poucos somem no Japão. Cerca de 10,000 pequenas Nagoros existem no Japão e enfrentam o problema da migração de suas populações para áreas urbanas.

Muitos desses lugares são habitados apenas por pessoas idosas, sem taxa de natalidade e com a ida dos jovens para outras cidades, estão prestes a desaparecer. É possível notar construções em ruínas, mercados e escolas fechadas e um número pequeno de habitantes remanescentes.

Um povoado perto de Nagoya, chamado Miyoshi enfrenta o mesmo problema em proporções menores e as autoridades tomam medidas para contornar a situação, com instalação de fábricas de fibra ótica e pequenos comércios, mas ainda pesquisam medidas para reverter o problema.

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Mini documentário The Valley of dolls

Fritz Shumann de origem alemã, havia guardado em suas lembranças a notícia de uma senhora que fabricava bonecos e os espalhava pelo seu vilarejo. Quando morou no Japão em 2009, leu pela primeira vez em um blog sobre a história de Tsukimi e resolveu ir pra lá em 2013.

Uma de suas motivações para visitar o vilarejo e fazer o documentário, foi sua própria avó, com mais de 80 anos falava constantemente sobre a morte e já tinha visto muito de seus amigos e familiares passarem para o outro plano, por isso, resolveu conversar com Ayano para entender o sentimento de sua avó.

Ayumi Tsukumi

Ayumi se mudou para Nagoro para ficar perto de sua mãe, nos dias de hoje já falecida. Seu primeiro boneco com a aparência de seu pai tomou forma para colocar em sua plantação, cerca de 15 anos atrás, desde então começou a confeccioná-los lembrando seus familiares, e depois, inspirados na população do vilarejo que viu ir embora ou falecera.

Possui marido e filha que vivem em Osaka, cidade onde morava até mudar-se para cuidar de sua mãe, que vivia só. De tempos em tempos visita sua família, mas prefere ficar em Nagoro cultivando seu jardim e sua horta, mantendo uma vida sustentável e criando seus bonecos.

Ela diz não temer a morte ou pensar sobre o assunto, mesmo com o hospital mais próximo ficando a 90 minutos de distância. Afirma que viverá eternamente através de sua boneca inspirada em seus traços.

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Bonecos de Ayumi

Os bonecos são feitos de algodão, madeira, velhos papeis e roupas doadas, leva cerca de um dia para produzi-los e sua especialidade são os bonecos com aspecto idoso. A parte mais difícil de fazer, segundo Ayumi é a boca, pois uma repuxada de leve e os traços ganham aspectos de bravos.

Depois de fazer os bonecos e espalhá-los pela sua casa, começou a posicioná-los pelo vilarejo. Os deixou nas ruas, em frente das lojas e até na escola fechada por falta de crianças, antes havia apenas dois estudantes e um professor.

Hoje, são mais de 300 bonecos ao longo de 11 anos. De três em três anos ela ainda faz reparos nas suas criações que ficam expostos à chuva, sol e vento.

Na frente das casas de antigos amigos, ela coloca bonecos que se parecem com seus moradores. Durante muito tempo, eles assustavam as pessoas que passavam pela estrada ou as que moravam perto de seu vilarejo, mas depois do documentário o turismo em Nagoro cresceu.

Nagoro

Nos anos 60, a cidade já enfrentava problemas de migração de seus habitantes, na época investiram em uma barragem e construções que promovessem sustentabilidade para a população e durante algum tempo alguns moradores voltaram, mas a medida não durou muito.

Assista ao mini documentário:

Veja fotos dos bonecos de Nagoro:

 

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