Conheça a luta dos pais solteiros no Japão

Descreditados perante olhos da sociedade, os pais solteiros no Japão, até hoje, lutam pelos seus direitos e sofrem preconceito.

Segundo um estudo de 2015, feito pelo partido democrático liberal, foram registrados 223,000 homens tentando criar seus filhos sozinhos.

pai solteiro

Muitos são divorciados, viúvos ou foram abandonados pelas esposas. Hiroki Yoshida é um deles, sua esposa o abandonou em 2010 e deixou seus três filhos com ele.

Yoshida conta ter ficado abalado por duas semanas, não parava de pensar em sua esposa, mas então percebeu que precisava agir pelas crianças.

A partir daquele momento, teve que enfrentar uma dura realidade. Criar seus filhos, quando um pai solteiro não é visto bem pela sociedade japonesa.

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Papéis definidos

mulheres e o sistema patricarcal

O Japão continua bem patriarcal, o homem e a mulher ainda tem seus papéis definidos. O sociólogo Toshiyuki Tanaka explica:

“Antes do começo dos anos 90, apenas mulheres tinham aula de cunho doméstico nas faculdades.”.

“Por milhares de anos, nós tivemos uma visão tradicional dos deveres, enquanto os homens trabalhavam para ganhar dinheiro, a educação das crianças era considerada trabalho da mulher.”.

Luta pelos direitos

Tomoyuki Katayama é um pai solteiro e criou o Zenfushiren, associação que luta pelos direitos destes homens.

As empresas não são compreensivas com os pais solteiros, se comparado com as mulheres que tem filhos para criar.

“Nós não percebemos a pressão social e psicológica que recaem sob os ombros destes pais solteiros, se a criança ficar doente, a mulher tem mais consideração do que um homem ao ter que ir embora mais cedo para cuidar de seu filho”.

Muitos deles acabam solitários, desapreciados pela sociedade e infelizes em seus empregos. Por causa dessa pressão, não se sentem no direito de exigir mais ou pedir ajuda para resolver seus problemas.

Impossibilitados em cuidar de sua carreira e das atividades domésticas chegam a um impasse.

Katayama conta a história triste de um pai solteiro, seu trabalho o impedia de cuidar de seus filhos, por isso decidiu pedir demissão e priorizar as crianças.

Ele não conseguiu mais outro emprego, a visão de contratar um homem que criava seu filho sozinho não era aceito pelos empregadores.

Quando procurou ajuda da associação, ele estava vivendo de economias e sendo despejado do seu apartamento.

Problema social

54% dos homens e mulheres solteiras vivem abaixo da linha da pobreza, segundo estudo feito em 2016 pelo Ministério de assuntos sociais. Porém, as mulheres costumam receber ajuda do governo, e os homens não.

Apenas em 2010, os pais solteiros tiveram o direito de receber auxílio, mas os números de casos aprovados ainda é baixo, muitos homens não se tornam elegíveis.

Mudanças das funções

O problema foi identificado pelo governo e iniciou uma campanha para mudar a ideia dos deveres dos homens e mulheres na sociedade japonesa.

Os homens eram encorajados a passar mais tempo com seus filhos e as mulheres a trabalhar.

O primeiro-ministro Shinzo Abe defende em seu governo, a utilização da mulher como força de trabalho, por conta do envelhecimento da população japonesa.

Direitos para os homens

Em 2008, os homens conquistaram o direito de ter licença paternidade. Ela permite que o homem tenha 52 semanas remuneradas.

Se aceitarem ter o salário reduzido em 58%, algumas empresas permitem licença de 01 ano. Desde a criação da lei, menos de 2% conseguiu desfrutar da licença.

Rejeição

A rejeição fica por conta dos valores da sociedade japonesa, os próprios homens recusam o auxílio.

Acreditam que seu lugar não é em casa, fazendo tarefas domésticas, ajudando a trocar fralda ou preparando mamadeira.

Quando o membro do partido liberal democrático, Kenzukue Miyazaki decidiu tirar um mês de licença paternidade, ele recebeu desaprovação, chegando a receber críticas e assédios.

Conta que eles acham que a licença é uma desculpa para descansar, como se fossem férias, e a maioria das pessoas mais velhas pensam assim.

Apesar dos empregadores adotarem medidas de flexibilização de horários para os pais solteiros, muitos não tem coragem de aceitar ajuda, por terem medo do que seus colegas pensariam.

Um pai de família solteiro desabafa e diz que gostaria de passar mais tempo em casa, mas a realidade é outra, muitos não entendem e repreendem por ele não ter uma esposa.

A situação dos pais solteiros no Japão ainda é um problema social a ser resolvido, assim como a realidade das mulheres que enfrentam dificuldades em se recolocarem no mercado depois de ter um filho.

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