Hajichi era tradição do Reino Ryukyu em tatuar as mãos

No antigo Reino Ryukyu, atual Okinawa, uma tradição conhecida como hajichi remonta mais de 500 anos de história e de orgulho feminino da região.

Porém, 20 anos após a anexação do Reino ao Japão, o Imperador Meiji decretou a proibição do hajichi.

Aliás, o Japão é um país que ainda não lida muito bem com tatuagens. Hoje, são associadas com criminalidade e a Yakuza.

Hajichi

Jovem tatuando hajichi

Durante a monarquia Ryukyu, tatuar as mãos representava a transição da mulher para a vida adulta.

Além disso, o poder espiritual era domínio das mulheres. Portanto, a arte era feita pelas xamãs onarigami com tiras de bambu afiado. Os padrões dos desenhos indicavam o status social de sua portadora.

Orinarigami rezando

Mulheres que pertenciam a classes sociais altas tinham trabalhos mais elaborados e os desenhos normalmente subiam para seus braços. Já as de classes sociais mais baixas recebiam uma arte mais rudimentar.

idosa com tatuagem nas mãos

Independente disso, o hajichi era extremamente importante para a vida de qualquer mulher do Reino.

De acordo com a história, elas deveriam valorizar suas tatuagens acima de qualquer coisa, até mesmo suas vidas.

Desenhos nas mãos

Os desenhos eram feitos para atrair felicidade, afastar o mal, proteger contra inimigos estrangeiros e serviam para ajudar a alcançar o próximo estágio de existência no pós-vida.

Desenhos de hajichi

Em suma, além das proteções físicas e espirituais, era uma forma de transmissão de poder das xamãs para as gerações mais novas.

Anexação de Ryukyu ao Japão

Quando o Reino de Ryukyu foi anexado ao Japão em 1879, uma série de mudanças aconteceram na região em um ritmo extremamente rápido para os padrões históricos.

Proibição

Imperador Meiji

Como a sociedade japonesa era avessa a tatuagens e o Imperador Meiji desejava criar uma sociedade homogênea, em 1899 o hajichi foi proibido.

Além disso, houve um claro objetivo de enfraquecer a influência das onarigami e fortalecer o poder do Imperador e da cultura majoritária do país.

Por diversas ocasiões, as xamãs, e principais líderes femininas das comunidades, eram acusadas de tatuar outras mulheres pelas autoridades.

Consequentemente, as prisões enfraqueceram suas lideranças e foram essenciais para desencorajar a centenária tradição de Ryukyu.

Com a discriminação da sociedade japonesa em relação as mulheres de Okinawa, muitas passaram a esconder suas tatuagens.

Mulher com hajichi

Outras, no entanto, não se permitiam intimidar e as exibiam orgulhosamente. Mesmo com a proibição do Imperador a prática continuou durante algum tempo.

Porém, a pressão social acabou asfixiando a cultura local. Mulheres com hajichi passaram a ser ridicularizadas, humilhadas e excluídas da sociedade.

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O retorno do orgulho ancestral

Nos últimos anos, Okinawa assiste ao resgate de sua cultura e tradição da era da monarquia Ryukyu.

Em 2012, Lensman Hiroaki Yamashiro, um fotógrafo de Okinawa publicou uma coleção de imagens feitas na metade da década de 90 com centenárias que exibiam suas mãos tatuadas.

Idosa no meio do campo

Algumas mulheres das gerações mais novas estão orgulhosamente tatuando suas mãos e resgatando sua ancestralidade.

Jovem mostrando hajichi

Em 2019 haverá uma exposição do hajichi e das tatuagens originárias de Taiwan no Museu de Artes de Okinawa a partir do dia 5 de outubro até 4 de novembro.

Yoshimi Yamamoto, organizador da exposição e professor de antropologia cultural da Universidade de Tsuru quer mudar a concepção que a sociedade japonesa tem em relação a essas marcas na pele.

Para Morika Yoshiyama, uma artista natural de Okinawa, hajichi simboliza o orgulho das mulheres do passado.

“Sinto-me orgulhosa quando imagino os sentimentos de minhas antepassadas, e é uma honra minha ter nascido como uma mulher de Okinawa”, afirmou ao Asahi Shinbum.

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