Conheça as crianças que perderam tudo no tsunami do Japão

O jornal Telegraph conversou com dois garotos, que com 12 anos de idade em 2011 foram fotografados em áreas de escrombos, procurando por suas mães, depois do tsunami.

sobreviventes do tsunami Japão
Taiga Toba à esquerda e Manabu Tsurushaiba. Créditos: Telegraph

É difícil descrever em palavras como minha visão do mundo mudou.”, diz Manabu Tsurushiba. “Eu me sinto diferente sobre as coisas que eu estava acostumado. As crianças da minha escola reclamam de seus pais. Eu penso que pelo menos elas tem parentes.”

Seis dias depois do tsunami japonês, na cidade devastada de Rikuzentakata, a equipe de reportagem encontrou Taiga Toba, procurando nos escombros objetos de sua vida anterior e vestígios de sua mãe desaparecida.

sobreviventes tsunami Japão 2011
Créditos: Telegraph

Eles tinham 12 anos de idade e eram melhores amigos. Os dois perderam suas mães. Cinco anos depois, os dois contam como suas vidas mudaram depois do tsunami.

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Taiga e Manaku

Taiga e Manaku estavam fazendo caixas de música para a escola quando o terremoto começou. O professor estava dando as instruções. “Nós fomos para debaixo das mesas, mas o chão tremia muito.”, conta Taiga. “Nós percebemos que não era um terremoto qualquer. Eu pensei: Eu vou morrer aqui?”.

Ninguém morreu em sua escola. Infelizmente, os pais das crianças, que se dirigiam para a escola para buscar as crianças, estavam em perigo.

“Minha mãe foi até a escola e me levou para casa.”, conta Manabu, de cabeça baixa encarando suas mãos. “Ela entrou na casa para pegar cobertores, e o tsunami chegou.”

Manabu ficou do lado de fora, sem conseguir falar nada. “Simplesmente não consegui avisar para ela sair, não me dei conta como estava rápido. Eu apenas corri para as montanhas. Eu podia ouvir o barulho das casas sendo destruídas atrás de mim e eu apenas continuei correndo.”

Taga ficou na escola, um professor cuidava das crianças. “De repente, ele gritou “corram!”. Era como se o Godzilla tivesse aparecido.”

“Você consegue ver as ondas chegando em você, e as casas sendo derrubadas pelo caminho. Estava lenta, mas muito poderosa. Eu não tentei ir para casa. Não conseguia mais vê-la.”

O adolescente agora com 17 anos ainda mora em uma casa temporária com seu pai, em um local pequeno em um abrigo construído para os sobreviventes. “Você se acostuma.”, ele diz. “Eu sei a reconstrução está acontecendo, mas lenta.”

“Tenho tentado não pensar muito na minha mãe, mas esse último ano, pensei demais, não sei porquê.”

Taiga é cauteloso em como se sente. “O aniversário está chegando e eu tenho que pensar sobre, mas não queria.”

A amizade de Taiga e Manabu foi interrompida pelo tsunami, foram para diferentes escolas e seguiram caminhos diferentes.

Taiga pensa em ir para a faculdade e se especializar em gestão, para abrir uma empresa para revigorar a cidade e dar suporte.

“Vou ter que me mudar para fazer a faculdade, mas quero voltar pra cá.” Já Manabu quer estudar em Tóquio.

Cidade devastada anseia por reconstrução

No centro da cidade, os escombros já foram retirados, e muitas construções devastadas continuam por lá.

As pessoas da cidade migraram para lugares mais altos depois do desastre natural. “O velho centro se transformará em um parque memorial ao tsunami.”, conta Futoshi Toba, pai de Taiga, prefeito de Rizuzentakata.

“É como bater seu carro – algumas partes apenas precisam de reparos. Aqui nós temos que comprar um carro novo, uma nova cidade. Tem sido difícil fazer com o governo entenda isso.”

Prefeito de Rizuzentakata assistiu sua casa sumir

Abrigado no telhado do City Hall, o senhor Toba assistiu sua casa ao longo do vale ser levada pelas ondas do tsunami, suspeitando que sua esposa estava dentro. Mas suas responsabilidades eram com a cidade, naquele momento.

Prefeito de Rikuzentakata Japão

Nem 24 horas depois ele teve tempo de confirmar se ela estava mesmo desaparecida, ou checar Taiga e seu irmão mais novo. Ele foi um dos últimos a saber o destino de seus entes queridos.

Processos burocráticos adiam reconstrução

O prefeito Toba está processando Tóquio pelos encargos burocráticos exigidos para reconstrução da cidade. Conta que as leis antigas estão em vigor, mas elas eram destinadas a proteger a cidade, que agora não existe mais.

Reclama do processo muito lento, apenas um processo demora três meses. “Tenho falado constantemente para o governo que acelerar algumas coisas. As pessoas estão vivendo em casas temporárias a cinco anos, eles apenas querem voltar ao normal.”

A cidade de Ostsuchi enfrenta os mesmos problemas, com a diferença de estar mais próxima da costa.

O prefeito e 47 oficiais municipais foram mortos no desastre. Sem ninguém para liderar a reconstrução da cidade, ela parece não avançar.

“Nada aconteceu”, diz o trabalhador de construção Hidemi Shojisima, enquanto passeia com seus cachorros. “Nada mudou, eles dizem querer reconstruir, mas como você pode ver, nada foi feito nas muralhas que seguram o mar. Sem isso, ninguém quer voltar.”

 

Fonte: Telegraph