Hafu: os dilemas de japoneses miscigenados no Japão e no mundo

Quem vive em terras nipônicas ou acompanha notícias e tendências de lá, já deve ter ouvido a palavra hafu. A tradução literal significa metade.

É o termo usado para referir a quem tem miscigenação japonesa com outra etnia. Para os hafus do mundo inteiro a vida é um constante dilema e também um grande desafio.

No Japão, a condição é consideravelmente mais difícil. Afinal 98,5% da população se declarou como japonês em 2018 de acordo com a World Population Review.

Essa estatística aponta uma série de questões complexas em seu cotidiano. Afinal em uma sociedade homogênea, eles tem suas identidades e sentimentos de pertencimento confusos.

Dilemas na sociedade japonesa

Embora os japoneses sejam um povo extremamente educado e receptivo com turistas do mundo inteiro, estrangeiros vivendo dentro da sociedade no Japão não são tão bem vistos.

Muitos japoneses não se sentem confortáveis convivendo com estrangeiros no ambiente de trabalho, por exemplo.

Além disso, as pessoas mais velhas alegam que eles não conseguem se habituar ou incorporar as tradições e regras de etiqueta sociais do país.

Essa realidade vivida por estrangeiros no Japão também é compartilhado com os hafu. Já que não são reconhecidos como japoneses verdadeiros dentro da sociedade.

A modelo japonesa Ariana Miyamoto foi impiedosamente criticada nas redes sociais por ganhar o concurso Miss Universo Japão em 2015.

Ariana Miyamoto

Após a coroação de Miyamoto, os internautas questionaram se era correto que a modelo representasse o Japão já que ela é uma hafu japonesa e afro-americana.

Alguns comentários diziam que mesmo sendo coroada Miss no Japão ela tinha rosto de estrangeira.

De acordo com alguns hafu, como Grace Harrah, colunista da Metropolis Japan, os hafu considerados ideais são os miscigenados de etnias caucasianas.

Rencentemete também houve um debate sobre a legitimidade japonesa da tenista profissional Naomi Osaka, japonesa descendente de haitianos.

Naomi Osaka

Isso prova que de acordo com a sociedade japonesa para ser um cidadão do Japão é preciso mais do que nascer lá, é preciso ser filho de japoneses “de sangue puro.”


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Os dilemas pessoais

De acordo com os hafu, existe uma grande sensação de não pertencimento dentro de sua própria nação.

Segundo depoimentos, muitas crianças miscigenadas sofrem com crises de identidade na infância por não saber o lugar dela na sociedade japonesa e no mundo ao seu redor.

Durante o período escolar os colegas de classe os vêem como alunos de intercâmbio, dependendo da outra etnia que o hafu possui.

Além disso, nem todos são considerados japoneses mesmo sem nunca ter saído do Japão. Geralmente são associados a nacionalidade de sua outra etnia.

Porém, quando vão para os países de sua descendência são considerados japoneses, não são vistos como conterrâneos em sua segunda terra.

Esse tipo de experiência é compartilhado por outros hafu japoneses no mundo inteiro. A grande maioria deles não sentem que têm um lugar onde pode chamar de seu.

Mas quando se encontram é o momento para se sentirem compreendidos e pertencentes a uma comunidade.

Mesmo com as dificuldades e os dilemas do cotidiano, os hafu do Japão e no Japão continuam vivendo e vencendo as adversidades que surgem em seus caminhos.

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