Costumes do Japão: placas com sobrenomes nas casas

Se você já foi ao Japão ou aprecia o cinema japonês, já deve ter percebido que em frente as casas existem placas com o sobrenome da família indicando quem são os moradores de lá.

Essa curiosa cultura pode parecer um pouco estranho para estrangeiros. Principalmente pessoas de países com altos índices de criminalidade como Brasil, EUA e México, por exemplo.

Afinal, se nesses países diversos casos de roubos e assaltos acontecem sem indicar quem são os moradores da residência, apenas um número como indicativo, deixar um sobrenome a disposição parece ser uma ideia insensata.

Mas não é o caso do Japão, considerado o nono país mais seguro do mundo com 1.391 pontos no GPI em 2018 (Global Peace Index).

A história dos sobrenomes

Hoje em dia é praticamente impossível pensar em um ser humano que não possua um sobrenome. Porém houve um tempo em que eles só existiam para um seleto grupo de pessoas: as elites dominantes.

Uso restrito

Durante séculos o uso do sobrenome era restrito a nobres, aristocratas e realeza. Isso se explica por diversos motivos. O primeiro e talvez o principal seja a densidade demográfica dos tempos antigos.

Seja no Japão ou na Europa, os camponeses e plebeus não tinham o mesmo vínculo com seus antepassados e sua linhagem sanguínea por não serem senhores de nada.

Esses são os proletários, pessoas que não possuem nada a não ser seus filhos (proles).

Como as pessoas se identificavam

Japão antigo

Então, durante muitos séculos e até mesmo milênios, as pessoas se identificavam com seu primeiro e com o nome de seus pais, por exemplo, “Yamada, filho de Hiroshi”.

Outro meio de identificação comum era o local onde a pessoa vivia. Então, ela também poderia se chamar, por exemplo, Matahachi de Nagano.

Apenas samurais tinham sobrenome

Em 1587 no Japão, Toyotomi Hideoshi decretou que o uso de sobrenomes era restrito aos samurais. Com isso, mais de 90% da população japonesa perdeu o direito de usar um nome de família.

Mas com as expansões dos vilarejos e cidades ao longo do tempo, identificar as pessoas apenas pelo primeiro nome começou a se tornar impraticável.

Por isso, os plebeus e camponeses passaram a utilizar um sobrenome de família de maneira informal e apenas na região onde viviam.

Somente em 1875 durante o período da Restauração Meiji as pessoas comuns foram autorizadas a utilizarem um sobrenome oficialmente.

A devastação de 1923

terremoto 1923 Japão

Antes do dia primeiro de setembro de 1923, a cultura de identificar qual família morava em uma casa não existia. Tudo mudou com o grande terremoto de Kanto.

Após um violento abalo sísmico na placa tectônica das Filipinas, o Japão foi devastado por um terrível terremoto seguido de tsunami e grandes incêndios no país.

A catástrofe ceifou a vida de mais de 140 mil japoneses. Além disso, deixou milhares de pessoas desaparecidas, destruição e danos materiais praticamente incalculáveis.

Trauma nacional

O grande terremoto de Kanto criou um grande trauma nacional, mas a esperança das pessoas reencontrarem seus familiares se manteve inabalável.

Placas com sobrenome

Foi então que as placas com sobrenomes surgiram no Japão. Um método encontrado pelos sobreviventes da tragédia para que as pessoas desaparecidas pudessem encontrar a casa onde suas famílias estavam vivendo.

Com o passar do tempo, essa forma de esperança se tornou um hábito comum em todo país.

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Segurança e privacidade

Como dito no início do artigo, em países com alto índice de violência e criminalidade não é uma atitude sensata indicar quem vive dentro de uma casa.

No Japão, isso pode render algumas vantagens como as relações de confiança em bairros, vilas e pequenas comunidades do país.

Apesar do risco de roubos e stalkers ser real, o benefício de ser um membro confiável de uma comunidade compensa esse risco.

Além disso, para assegurar maior privacidade, a maioria das placas indicando o nome da família residente é escrita em algarismos romanos ou em kanjis chineses tradicionais.

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